14 de out. de 2009

Entrevista: Marcelo Garcia "Não foi fácil criar uma identidade e um orgulho em ser gay"

Quem disse que os homossexuais não têm espaço no poder público? Nosso entrevistado da semana fez história na Prefeitura Municipal do Rio Janeiro e ocupou o cargo de Secretário Municipal de Assistência Social.

Marcelo Garcia nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro. Formou-se em Assistência Social na Universidade Federal Fluminense em 1993. Desenvolveu vários projetos na área social nas favelas do Rio Janeiro. Foi eleito Presidente do Conselho Municipal de Assistência Social por dois mandatos.

Começou na gestão governamental em 1999 como Chefe de Gabinete da Secretaria de Estado da Assistência Social. Já em 2000 foi eleito Secretário Nacional de Assistência Social. Foi em 2003 que Marcelo assumiu a gestão da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, onde desenvolveu a implantação do Sistema Único da Assistência Social (SUAS) no município do Rio de Janeiro.

Homossexual assumido Marcelo Sempre atuou na militância social, principalmente na defesa das liberdades individuais dos gays e na defesa do direito à vida das pessoas que vivem com o vírus HIV da Aids.

Confira na intera a entrevista com Marcelo Garcia

Quem é Marcelo Garcia?

Uma cara que tá fazendo 40 anos em novembro. Que já experimentou um pouco de tudo. Gostou de muita coisa e se arrepende de outras tantas. Um cara que segue a vida de certa forma achando que a solidão não pode ser superada apenas por uma boa compania.

Por ser homossexual, como foi atuar na gestão pública?

Ocupo cargos públicos desde 1998. Tinha 29 anos quando fui trabalhar no Governo Federal. Fui Secretário Nacional de Assistência Social e depois Secretário Municipal no Rio de Janeiro. Nunca escondi que fosse gay. Nunca criei um personagem assexuado. Em toda minha carreira sempre deixei bastante transparente minha orientação sexual mas ela nada tinha que a ver com a minha atuação profissional.

O fato de ser gay assumido atrapalhou de alguma forma a sua gestão?

Não atrapalhou. Nunca ocupei uma função por ser gay. O Fato de ser gay como disse nada tem que a ver com o meu trabalho mas é verdade que é preciso ser bem mais competente para que o preconceito não apareça. Acho que sempre fui respeitado pois era muito bom no que fazia caso não fosse talvez as pessoas pudessem usar da minha orientação sexual para justificar os "fracassos "que não vieram.

Como secretário de Assistência Social desenvolveu algum projeto em prol dos GLBT?

Na Prefeitura do Rio fizemos muitas coisas. Criamos o Projeto DAMAS para Travestis e Trangêneros, o Comitê de Iguadade e Diversidade, a campanha Rio Orgulho, o Disk Solidão Gay, criamos uma legislação super atual e fizemos um amplo projeto de garantia de Direitos. No Rio pude perceber o quanto podemos de fato fazer para que as pessoas possam de fato terem direitos.

Como o senhor analisa o preconceito sofrido pelo público GLBT?

Melhorou? Sim. Mas ainda não podemos ficar de mãos dadas nas ruas, beijar no restaurante. Ainda somos tratados como solteiros no trabalho. Na TV não se teve até o hoje o famoso beijo gay por exemplo. Acho que hoje os gays são "aceitos " desde que não apareçam em público.
Eu não gosto da idéia do amor clandestino e é isso que a sociedade quer nos dar. Apenas a possibilidade da clandestinidade sem repressão. É pouco. Muito pouco.

 Já sofreu algum tipo de preconceito?

Todos os dias da minha vida desde de que sou criança de certa forma o preconceito se mostrou para mim num riso, num deboche, nun "desafio ". Não foi fácil criar uma identidade e um orgulho em ser gay pois o tempo todo me diziam o quanto isto era errado.
Contei esta história no leu livro "E ninguém tinha nada com isso.... " em que narro meus medos de ser gay já que este era um assunto em que fui solitário muitos anos da minha vida.

O que deveria ser feito para acabar ou amenizar o preconceito?

A Criminalização da Homofobia seria um passo importante. E a legislação deveria ser garantidora de direitos iguais. Nós gays não queremos nem mais e nem menos do que os heterosexuais. Queremos direitos iguais.

Está desempenhando algum projeto para o público?

Neste momento eu escrevo em Blogs, respondo emails, preparo o segundo livro. Queria ter mais tempo para me dedicar a construção dos direitos dos gays. Temos muito a caminhar.

 O que é o Stonewall Brasil?

É um site www.stonewallbrasil.com em queremos contar a história do movimento gay no Brasil. Este ano fizemos 40 anos de Movimento Gay no Mundo e 30 de Movimento Gay no Brasil. Foram datas que passaram em Branco. Para chegarmos até aqui teve muita luta e muita militancia. Lutas e militancias que estão esquecidas.
O Site nasceu para comemorar os 40 anos do Levante de Stonewall em Nova York em 1969.

Qual a importância desse projeto para o público GLBT no Brasil?

Garantir a memória de quem lutou e de quem quis fazer um mundo melhor. O Projeto precisa crescer. Mas é inacreditável como a memória do movimento gay tem pouca documentação e poucos registros. Muita gente já morreu. Temos muito a lembrar e muito que contar. Temos que nos orgulhar de quem com todas as dificuldades disseram que um dia o preconceito poderia acabar.

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Olha eu deixo com vcs uma frase da Clarice Lispector: "Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome.

No site do Marcelo é possível ler ainda vários artigos e entrevistas.

Acesse também o Stonewall Brasil

O Blogay Floripa agradece ao Marcelo Garcia por toda atenção e pela grande entrevista

Valeu Marcelo!!

Foto: Divulgação (site)

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